TUDA - pap.el el.etrônico

Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano I Número 11 - Novembro 2009
Conto - José Geraldo de Barros Martins

Ilustração: José Geraldo de Barros Martins


Aconteceu naquele Bar

Ele poderia ter escolhido outro caminho, mas resolveu passar em frente ao antigo bar que frequentava na época da faculdade... fazia muito tempo que não voltava... parou o carro, e resolveu andar algumas quadras a pé, só para passar lá e verificar como estava...

O bar continuava o mesmo, as grades que delimitavam o bar ainda eram as mesmas: pedaços de dormentes fincados no piso sustentando correntes... lá dentro também pouca coisa mudara, talvez a cor das paredes fosse outra, mas ainda estavam aquelas mesas e cadeiras metálicas com os logotipos das indústrias de cerveja... esta, por sinal deveria estar morna ( como sempre fora ) mas com pedaços de gelo grudados do lado de fora ( para dar a impressão que estava “trincando de gelo” )... também ainda devia ter X-Trambique ( um delicioso sanduíche a base de pão francês, copa, cebola crua e queijo prato derretido ) ou a tradicional calabresa frita no álcool...

Ele reparou porém que os garçons mudaram, não havia mais o Oscar o garçon principal, um maluco que depois tornou-se escritor, nem o Etivíldio com seu cabelo Jackson Five... Mas para ele a única coisa diferente mesmo que estava vendo, era a ausência de uma turma de frequentadores, de cinco pessoas que iam religiosamente lá na hora do almoço discutir os rumos da arquitetura e das artes no Brasil: ele mesmo e seus quatro amigos: Sávio Cacciaccinni, Fúlvio Dicaravaggio, Sancho Ruiz Maldini e Hildon Risério ( os dois primeiros pintores, os dois últimos
escultores )...

Começou a lembrar das discussões exaltadas, de como eles pretendiam revolucionar as artes, de como tinha absoluta certeza de que todos eles iriam entrar para a história e que aquele bar seria conhecido como o local em que aqueles gênios frequentavam, que aquela esquina viraria ponto de afluxo de ônibus de turismo... Porém nada daquilo acontecera, os amigos viraram profissionais liberais ( arquiteto, publicitário ou chefes-de-cozinha ) e ele trabalhava na mediocridade do funcionalismo público...

“ - Onde foi que erramos” era o ele que perguntava a si mesmo estarrecido... resolveu entrar e pedir uma cerveja preta, e ficou pensando, e quanto mais ele pensava mais indignado ficava “- Por que nós nunca fizemos sucesso? Nós que éramos os Donos da Arte no Brasil, Por que fracassamos?”

Pediu outra cerveja e naquele intervalo de tempo em que alguém espera o garçon trazer o pedido, ele teve um estalo: se lembrou das teorias de Arthur Schopenhauer e percebeu que na verdade as pessoas são aquilo que elas querem ser ... ou seja: aquelas reuniões eram preparatórias para que todos fossem o que são, pessoas comuns vivendo uma vida decente com as suas famílias, o “Homem Comum Enfim” que James Joyce tanto preconizou... então ele percebeu o sentido de tudo aquilo e deu uma enorme gargalhada!!!